Ao conceder entrevista ao Jornal Gazeta do Povo/Rascunho, reproduzida no
Portal Vermelho (ambos na rede mundial de computadores – Internet), o
professor e crítico literário brasileiro Alfredo Bosi falou sobre seu
mais recente livro, Ideologia e Contraideologia (2010), e destacou
ainda, o que denomina de sociologia da literatura.
A. Bosi teve uma formação inicial com as obras de Benedetto Croce, autor
que defendia puramente a estética e insistia na separação, na divisão:
“Ciência é ciência, filosofia é filosofia, sociologia é sociologia, arte
é arte. Arte é imagem e sentimento. As ciências humanas têm uma relação
direta com a realidade, ou procuram ter, e têm obrigação de dar ao seu
leitor a veracidade de suas conclusões.”
Inobstante as posições de Croce, o grande professor foi desenvolvendo
novas percepções, estabelecendo um diferencial entre universo literário
(ou de imaginação) e as relações da literatura com a cultura e a
antropologia; ou como explica melhor, um universo que projeta a
subjetividade e, paralelamente, a algo público, uma atmosfera cultural,
social, pública.
Revelou que, ao longo de sua vida, sentia-se um mal-estar com esta
dicotomia e problematizou: ou se estabelecia uma autonomia da escrita de
tudo que ficava em torno, o estético; ou o contrário, colocava-se “luz
no período todo”, onde deveria ser considerado pelos autores, valores e
ideias do universo, o que seria a posição da sociologia da literatura,
do marxismo; em geral, das posições culturalistas.
Por muitos anos, tal inquietude fez parte da trajetória de A. Bosi, que
teorizando Adorno (marxista da Escola de Frankfurt que valorizou a
subjetividade, do ponto de vista individual) em: “a grandeza do poema é
aquilo que a ideologia esconde”, sentiu-se um pouco mais confortável com
tal epígrafe.
Mas foi quando, ironicamente recorrendo ao autor de sua formação
inicial, Croce, que obteve exatamente a resoluta lição: “devemos separar
conceitualmente poesia e não-poesia.”.
É justamente nesta oportunidade, com a divisão entre universo literário e
sociologia da literatura, que compreendeu a separação de outros dois
importantes conceitos, o que chamou em termos sociológicos e modernos,
“separar ideologia e contraideologia.”.
Entre outras palavras, A. Bosi traduziu o que Adorno se referia acima,
“a contraideologia é um movimento individualizante que faz com que o
singular apareça; aquele singular que parecia inteiramente absorvido
pela universalidade da ideologia dominante está lá, pulsando. E é ele
que vai dizer coisas que durante séculos e séculos serão repetidas e a
gente vai ler e vai se comover com aquilo.”
Desta forma, convencido da importância, superadas as dicotomias e
divisões, entendendo o processo de percepção da realidade, o exímio
crítico literário voltou-se para o mundo dos valores, das ideologias,
concluindo que era preciso, em cada período, as tendências contrastantes
de ideologia e contraideologia.
A partir daí, houve sempre uma preocupação em mostrar o traço
sociológico, o traço social e histórico, a “sociologia da literatura” e
isso estabeleceu um novo “olhar literário” e uma nova forma de produção
intelectual na contemporaneidade.